segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Crônica do Papagaio Torcedor


   Este caso aconteceu. Foi lá pelos idos de... de... bom, deixa isso pra lá. A única coisa que posso afirmar com certeza é que o Zico, o velho galinho de Quintino, ainda aprontava das suas nos gramados brasileiros, com lances cada vez mais geniais. Época dourada aquela, em que o amor à camisa alicerçava uma relação mais duradoura da torcida com o jogador, e do jogador com o clube.
   A paixão do brasileiro por futebol o fazia expressar esse sentimento de uma forma desmedida, como em geral ainda acontece. .. Que o diga  Seu Vitorino, torcedor fanático do Flamengo, que tem um longo histórico de amor ao clube. Para ser mais exato, desde que veio ao mundo e abriu pela primeira vez os olhinhos ainda sujos de sangue, viu a camisa do Flamengo no corpo franzino do pai... foi amor à primeira vista... babou de encantamento... e nunca mais esqueceu, porque “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo...”.
   Seu Vitorino casou-se cinquentão. Não teve filho. Aliás, minto: filho teve... não bem um filho humano, mas um papagaio esperto que logo fez parte da família. E de tanto  Seu Vitorino torcer, cantar e comemorar  os louros da vitória , o papagaio acabou aprendendo também a cantar o hino do clube, e de cor e salteado. Bastava ver alguns torcedores cantando e gritando eufóricos, que o bicho imediatamente eriçava as asinhas verdes fazendo coro: “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo...”.
   O Flamengo, que na ocasião papava mais títulos que boca de esfomeado, estava outra vez disputando outra final do campeonato carioca. Seu Vitorino não pensou duas vezes: pegou o papagaio ( seu amigo fiel sempre nas grandes decisões ),  entrou num ônibus e se mandou para a Lapa. Lapa porque desta vez ele ia torcer na casa de uma tia, flamenguista doente, para variar.
   A certa altura da viagem, oito integrantes da torcida rival também tomaram o mesmo ônibus  -  era só o que faltava! -  e já entraram cantando e fazendo uma arruaça daquelas, enquanto ameaçavam de morte um flamenguista lá fora.
   E o que dizer do Seu Vitorino? Este, por pura sorte deste mundo, safou-se porque esquecera a camisa do clube  na máquina de lavar roupa  – o que o fez dar um longo suspiro de alivio!
   Mas então aconteceu: o mudo, perdão, o louro deu o ar de sua graça; e eriçando as asinhas verdes, estufou o peito,  mandando ver: “ Uma vez Flamengo, sempre Flamengo...” Pra quê?  Amigos, o pau comeu!... Aliás, nem chegou a comer direito, porque Seu Vitorino ( Deus sabe como ) conseguiu se desvencilhar daqueles loucos como um jogador de futebol, saindo pela porta  da frente já catando cavaco!...  Mas fugiu, sem nem olhar para trás, porque se olhasse, veria também o papagaio escapar desesperado por uma das janelas dos fundos,  deixando no ar um rastro verde de penas.




                                                               



2 comentários:

Anônimo disse...

gostei da cronica. muito engraçada e que fala do meu time de coração. e fala da realidade entre torcidas.

Anônimo disse...

é uma cronica muito divertida e tem um história muito comovente.

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